Curitibana do INSS reservou apartamento de R$ 28 milhões em Balneário Camboriú

Imagem: Senna Tower

Em meio a investigações sobre esquemas de descontos irregulares em benefícios previdenciários, surge mais um capítulo controverso na vida do ex-procurador-geral do INSS, Virgílio Filho. Sua esposa, Thaisa Hoffmann Jonasson, reservou um apartamento avaliado em R$ 28 milhões no luxuoso Senna Tower, em Balneário Camboriú (SC), um dos empreendimentos mais ambiciosos do Brasil. A reserva, no entanto, foi cancelada pela construtora devido a riscos judiciais, levantando questionamentos sobre o patrimônio do casal.

Imagem: Senna Tower

O imóvel reservado pela médica curitibana faz parte do Senna Tower, um arranha-céu projetado para ser o maior do mundo, com 550 metros de altura e 157 pavimentos, totalizando 228 apartamentos. O investimento no projeto é estimado em R$ 3 bilhões, com conclusão prevista para 2033. As obras iniciaram no final de setembro de 2024.

Virgílio Filho, servidor de carreira da Advocacia-Geral da União (AGU), ocupou o cargo de procurador-geral do INSS em dois períodos: de 2020 a 2022, e de 2023 até ser afastado judicialmente em 2024. Ele é um dos alvos da Operação Sem Desconto, deflagrada pela Polícia Federal, que investiga o esquema conhecido como “Farra do INSS”. Esse caso envolve descontos ilegais em benefícios de aposentados, e Virgílio teria recebido pelo menos R$ 11,9 milhões de empresas ligadas aos investigados.

Uma investigação da Controladoria-Geral da União (CGU) aponta um “acréscimo patrimonial” de R$ 18 milhões no patrimônio de Virgílio, o que inclui compras de imóveis e veículos de luxo pelo casal. Thaisa, por sua vez, adquiriu três imóveis à vista entre 2022 e 2024: um apartamento e uma sala comercial em Curitiba (PR), onde residem, e outro apartamento em Brasília, às margens do Lago Paranoá. Em 2024, ela comprou um Porsche Cayenne híbrido por R$ 789 mil através de sua empresa de consultoria. Virgílio reservou um Audi A5 de R$ 380 mil após a operação policial, o que gerou alertas do Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras), e em 2024 adquiriu uma Mercedes-Benz GLB 35 AMG avaliada em R$ 508,5 mil pela Tabela Fipe.

A controvérsia se aprofunda com as ações de Virgílio em favor da Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag). Ele teria autorizado o “desbloqueio” em massa de benefícios de aposentados para permitir descontos, contrariando procedimentos usuais do INSS e orientações técnicas do órgão. A Contag, em nota oficial, negou qualquer irregularidade: “A Confederação Nacional dos Trabalhadores Rurais Agricultores e Agricultoras Familiares (CONTAG) reafirma, de forma categórica, a sua lisura e transparência em todas as ações que realiza em defesa dos direitos de seus associados e associadas. A CONTAG esclarece que não obteve, nem solicitou, qualquer tipo de facilitação junto a membros do INSS ou de qualquer outra instância da administração pública.” A entidade enfatizou que todos os pleitos foram feitos por canais oficiais e baseados em argumentos técnicos e jurídicos legítimos.

O cancelamento da reserva ocorreu em julho de 2024, quando a construtora FG Empreendimentos solicitou à Justiça a anulação do termo, alegando “risco iminente de constrição judicial do imóvel” e desistência por parte de Thaisa. Inclusive, de acordo com a petição inicial, a médica omitiu que era casada com Virgílio, ao declarar no instrumento contratual ser “divorciada e declarada não conviver em união estável”. Essa omissão dolosa, considerada uma declaração inverídica sobre seu estado civil, frustrou os mecanismos de due diligence e compliance da construtora, que argumenta que o conhecimento desse vínculo alteraria substancialmente a análise de risco do negócio. A conduta é vista como uma violação ao dever de veracidade e transparência, configurando inadimplento contratual por culpa exclusiva, com base no art. 422 do Código Civil, e justificando a recisão por justa causa em vez de um simples distrato. A empresa reportou ao COAF e foi notificada pela PF no inquérito 2025.0065245-SR/PF/RJ, pedindo retenção de R$ 2,36 milhões em penalidades e liberação do imóvel.

Em compromisso com o jornalismo ético e equilibrado, a redação entrou em contato com Thaisa Hoffmann Jonasson, oferecendo espaço para que ela apresentasse sua versão dos fatos, entretanto até o momento da publicação desta matéria, não recebemos retorno. O espaço permanece aberto para que ela se manifeste e qualquer declaração será incluída em atualizações futuras da reportagem.

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